1 de jul. de 2009

Hoje



HOJE É DIA DE BOAS NOVAS


“Então disseram uns aos outros: Não fazemos bem; este dia é dia de boas novas, e nós nos calamos. Se esperarmos até a luz da manhã, algum castigo nos sobrevirá; vamos, pois, agora e o anunciemos à casa do rei.” 2 Reis 7:9


Mais uma noite se aproximava, seria como tantas outras de sofrimento, dor, fome e terror. Não havia liberdade de ir e vir nem o que comer e beber. Os que perderam a lucidez já haviam almoçado seu filho mais novo em dias anteriores quando a fome era insuportável. O inimigo estava lá fora, rugindo como leão, aguardando a primeira oportunidade para nos estraçalhar. Não havia saída, pois na fortaleza estávamos morrendo de fome e enfermidades, deprimidos e temerosos. A fortaleza já não era um lugar seguro, mas, lá fora estava o inimigo. Eu e meus três companheiros estávamos fora dos muros, pois éramos leprosos. Além de sofrermos as mesmas mazelas que os nossos conterrâneos sofriam, fomos excluídos do convívio entre eles.


O sol declinava, a brisa suave denunciava uma noite fria e úmida, não tinha quem me aquentasse, o silencio reinava, exceto pelos gemidos de um companheiro com suas dores e os meus próprios gemidos que vinha do fundo da minha alma, ela clamava por socorro. De repente, como que por uma iluminação divina, pensei comigo mesmo: Se eu permanecer sentado como estou certamente morrerei, se entrar na cidade, ainda assim morrerei de fome, mas no acampamento do inimigo tem abundância de víveres, então irei até eles. Possivelmente me matarão, mas, nesse caso, o morrer é lucro, pelo menos recupero minha dignidade e auto-estima. Convenci meus companheiros a fazerem o mesmo.


Chegamos ao acampamento do inimigo desconfiados, lá também o silêncio reinava, isso era perturbador, pois esperávamos ser capturados a qualquer momento, mas ninguém aparecia. Depois de percorrermos alguns metros resolvemos entrar numa das tendas, ela estava muito bem abastecida, comemos e bebemos até ficarmos saciados. Ali havia muitas riquezas, das quais nos apropriamos. Em seguida entramos em outra tenda e o estado era o mesmo. A alegria inundou o meu ser, não somente o meu corpo, mas a minha alma estava saciada. Podia ver o sorriso no rosto dos meus companheiros, até as dores da nossa enfermidade haviam se dissipado.


Enquanto estávamos neste êxtase, repentinamente, a mesma iluminação divina que nos conduzira a este lugar de sonho, me trouxe à memória os meus conterrâneos, sim aqueles que me desprezaram, nesse momento estavam padecendo na fortaleza, mas isso não é problema meu. A tristeza voltou a inundar o meu ser, meus companheiros perguntaram o que estava havendo. Então compartilhei o que estava sentindo nos seguintes termos: “este dia é dia de boas-novas, e nós nos calamos; se esperarmos até à luz da manhã, a culpa inundará o meu ser; agora, pois, vamos e anunciemos a boa notícia.” Nos entreolhamos silenciosamente, então corremos disparados para anunciar a salvação ao nosso povo.


Apesar de não acreditarem imediatamente em nossas palavras, foram averiguar a veracidade do relato e, uma vez confirmada a palavra, toda a cidade rompeu os grilhões da opressão e foram saciados. Já não havia fome, nem tristeza, nem dor, mas o regozijo inundou toda a cidade. Dentre todos, certamente, eu era o mais feliz, pois fui o instrumento para abençoar a minha cidade. Hoje, continuo fora dos muros da fortaleza, continuo leproso e a sociedade ainda me exclui. Mas, o que importa? Não há nada melhor que a sensação do dever cumprido, ainda que sem reconhecimento diante da minha sociedade. Penso que tenho uma missão; permanecer fora dos muros da fortaleza, pronto para anunciar as boas-novas. E você?



Pr. José Crispim S. Santos











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