18 de set. de 2009

A PRIMEIRA PEDRA

A Primeira Pedra

No Evangelho escrito pelo Apóstolo João, em seu capítulo 8º, há a narração de um fato ocorrido envolvendo a pessoa de Jesus Cristo, que é do conhecimento da maioria absoluta das pessoas que freqüentam a Igreja. Uma mulher foi flagrada no ato do adultério. E levaram esta mulher até Jesus, ansiosos para ter o consentimento do Mestre para poderem apedrejá-la até a morte.
Era de manhã cedo, e uma pequena multidão estava na praia ouvindo os ensinamentos de Jesus Cristo. De repente chegou uma outra multidão, trazendo uma mulher assustada. Aterrorizada seria o termo mais correto. Acredito que a multidão, sedenta de sangue, já havia torturado, espancado, seviciado, rasgado as suas vestes daquela mulher. Ela foi jogada aos pés de Jesus. As pessoas que já estavam com Jesus se uniram aos que trouxeram a mulher, ansiosos para também descarregar a sua ira, a sua frustração, a sua animalidade, a sua irracionalidade, a sua impiedade, a sua bestialidade sobre aquela mulher.
Os seres humanos são maus, são péssimos, são horríveis. Amar é assumir o risco de sofrer uma decepção, porque somos, todos nós, perversos, e temos prazer na aflição alheia.
Há dois elementos que podem ser observados nesta situação: de um lado a multidão que queria se divertir às custas da vida daquela mulher; e de outro, os escribas e fariseus, que queriam colocar Jesus num beco sem saída. Se Jesus tivesse concordado com a execução da mulher, então, o seu ministério de amor seria uma farsa. Por outro lado, se Jesus determinasse o perdão da mulher, estaria indo contra a Lei de Moisés. O que não poderia ocorrer, uma vez que Ele próprio já afirmara que não viera a revogar a Lei de Moisés, mas sim a cumpri-la.
Uma turba exaltada se formou, contando, inclusive, com as pessoas que estavam a ouvir os ensinamentos de Jesus antes da chegada dos escribas e dos fariseus. Todos já estavam excitados com a possibilidade de poderem atirar "uma pedrinha" na mulher.
Nós seres humanos somos naturalmente propensos a extravasar a nossa frustração, e nossa infelicidade sobre pessoas que nada tem a ver com o nosso sofrimento. Freqüentemente a nossa decepção se torna frustração, e posteriormente em raiva. Então passamos a ansiar por matar, esquartejar, queimar em praça pública mesmo aqueles que são inocentes de nosso sofrimento (os filhos que o digam...).
Jesus esperou mais alguns minutos, até que a multidão armada com as pedras, exigiu de Jesus uma posição, um pronunciamento, uma decisão, uma sentença. Imagino que quando Jesus se colocou em pé, a multidão, apreensiva, fez um silêncio de morte (morte da mulher). Jesus se levantou e disse uma coisa que ninguém esperava. Ele não disse "sim", não disse "não". Mas a sua resposta não poderia ter sido mais dura, mais eficaz, mais cortante e penetrante: "aquele que não tem pecados, seja o primeiro a atirar a pedra". Em outras palavras, somente quem fosse santo, quem não tivesse pecados, quem fosse puro de mãos e limpo de coração, que não entregasse a sua alma à vaidade e nem jurasse enganosamente (Salmos 24), poderia ser o primeiro a atirar a pedra.
E a Bíblia diz que aos poucos a multidão se dispersou. Todos foram para as suas casas, acusados pela própria consciência, deixando a mulher e Jesus sozinhos. Quando a mulher ficou a sós com Jesus, ela poderia ter fugido. Mas não o fez. Por que aquela mulher não fugiu?
Nós seres humanos, temos uma reação instintiva de fugir sempre. Nós fugimos daquilo que pode nos causar dor e sofrimento. É uma reação natural. Você já pensou em fugir de alguém alguma vez em sua vida? Ir para bem longe onde ninguém te ache, ninguém te conheça, ninguém te acuse, ninguém saiba do teu passado?
Por que fugir? Para ter um alívio momentâneo e imediato. Mas não é possível fugir sempre. Aliás, existem duas pessoas de quem você não poderá fugir para sempre, e nem há local do mundo onde possa se esconder delas: Deus e você mesmo. É por isso que aquela mulher não fugiu. Mais cedo ou mais tarde você vai ter que enfrentar o seu Deus. Não vai poder fugir dele para sempre. E quanto mais tempo demorar, mais dor e sofrimento vai colher...
Eu gostaria de chamar a tua atenção para dois fatos nesta passagem. A primeira é que Jesus não disse: "quem não é adúltero atire a primeira pedra", dando a entender que os que não eram adúlteros poderiam condenar aquela mulher. A exigência, o requisito, a habilitação exigida por Jesus para que alguém pudesse condenar aquela mulher era uma condição intransponível: não ter pecados, não ter nenhum pecado. E diante desta condição, somos forçados a concluir que o único que poderia atirar as tais pedras era o próprio Jesus Cristo...
Não obstante, nós, da igreja moderna, pensamos que podemos atirar pedras sobre aqueles que cometem os pecados que nós não cometemos. Isto é, pensamos que podemos condenar os adúlteros porque não cometemos adultério; os ladrões porque não roubamos; os estupradores porque não cometemos estupro; os assassinos porque não matamos ninguém; os seqüestradores porque não seqüestramos ninguém; e assim sucessivamente. Em outras palavras, acreditamos que podemos condenar as pessoas que cometem os pecados que nós não cometemos. Olhamos para os pecados dos outros e nos julgamos melhores do que os outros. Em alguns casos chegamos a nos julgar santos e imaculados.
Quando nós nos arrogamos ao direito de condenar uma pessoa, quem quer que seja, e qualquer que seja o motivo, estamos simplesmente nos declarando santos, puros e imaculados. E merecedores de uma posição de destaque no Reino de Deus: juízes. São os juízes que tem o poder e a capacidade de julgar e condenar. Quando nós condenamos alguém, nós nos declaramos melhores do que as pessoas que condenamos. Talvez até com uma certa dose de razão, mas sem nenhum fundamento bíblico...
A justiça de Deus não é a mesma justiça que os seres humanos utilizam.
Essa colocação que fez Jesus Cristo nos coloca (a todos nós), num mesmo pé de igualdade. Mas nós, arrogantes, prepotentes, orgulhosos, ufanistas, hipócritas, acreditamos que nos é possível estarmos em situações diferentes porque não cometemos os mesmos pecados que cometem aqueles a quem condenamos.
O segundo fato para o qual gostaria de chamar a tua atenção é que a própria mulher adúltera não tinha o direito de se condenar. De atirar pedras sobre a própria cabeça. Não poderia ser a sua própria acusadora, juíza e carrasca.
Nós, membros de alguma das igrejas de Jesus Cristo, não temos o direito de nos condenarmos ao inferno, ao fogo eterno. Não importa o tamanho ou a gravidade de nosso pecado. Se deliberadamente nos afastamos da Igreja, estamos a nos condenar à separação eterna de nosso Deus. Muito embora todos os dias milhares de pessoas cometam este tipo de "suicídio espiritual", dizendo-se indignos da graça, do perdão e da misericórdia de nosso Deus.
Se nosso Deus nos tratasse do modo como merecemos ser tratados, onde estaríamos nós? Algum de nós, com toda sinceridade, pode olhar para os céus, e reivindicar, requerer, exigir alguma coisa de Deus fundado em sua própria santidade e pureza? De se lembrar que pecado não é somente matar, roubar e estuprar, como muitos pensam. Mas pecado é tudo aquilo que fere, ofende, magoa e entristece o coração de Deus e o Espírito de Deus. O fato de sermos pecadores nos retira, e nos atira para longe da presença de Deus. Então nos vemos em uma situação de desespero: o pecado nos retira da presença de Deus, de modo que não podemos exigir nada de Deus. Por outro lado não podemos (nós mesmos) atirarmo-nos ao inferno por termos pecado (não importa qual tenha sido o pecado).
Olhe para a tua vida, para a tua conduta, para os teus sentimentos, para os teus desejos mais secretos, para os sonhos sórdidos e imorais, para a raiva e o rancor que possivelmente você tenha guardado. Você pode dizer que não tem pecados para poder condenar quem tem pecados? Lembre-se de que o fato de não ter cometido o mesmo pecado de quem você quer condenar, não te autoriza a fazê-lo... Ainda mais ainda se o pecador for... você mesmo!
Ninguém de nós merece alguma coisa de Deus, senão a sua ira e sua condenação. A salvação não é por merecimento. Não importa o que façamos ou deixamos de fazer. O que importa é se nós cremos ou não na misericórdia, no perdão, na regeneração e no amor de nosso Deus.
Crês isto? Então vai-te, e te seja feito assim como creste Jo.11:26, Mat.8:13


Autor: Takayoshi Katagiri

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